Imagens selecionadas por Rafael Cavalcanti
É comum
ouvirmos por aí que para a Filosofia as perguntas são mais importantes do que
as respostas. Mas o que isso significa na prática? Engana-se quem pensa que os
filósofos não buscam respostas ou não estariam interessados em responder as
perguntas que formulam. Seria muito estranho se fosse essa a situação. As
perguntas se tornam essenciais justamente na medida em que elas nos colocam no
caminho das respostas. Sem dúvida, estranhamento e perguntas, não há
motivos para buscar respostas. Não há motivos para investigar, para pensar,
para descobrir. Por outro lado, cada passo que damos em direção ao novo, ao
conhecimento, às respostas, outra tantas perguntas, dúvidas e espantos
certamente surgirão. E é isso que interessa para a filosofia: ampliar
horizontes, nos desvelar novas paisagens e mundos.
A atitude filosófica é assim marcada por
uma maneira de estar e viver o mundo que se opõem à maneira que o senso comum está e vivencia o mundo.
Por senso comum entende-se as opiniões ou explicações que fazem parte do nosso cotidiano e
permeiam nossas conversas diárias, que são transmitidas de boca em boca e
através de gerações. Essas opiniões quando transmitidas via jornais, revistas,
televisão e internet podem ganhar o status
de verdades absolutas, sendo naturalizadas, uma vez que são
amplamente aceitas por diversos segmentos da sociedade. Exemplos de opiniões de
senso comum podem ser encontrados em ditos populares como “Deus ajuda quem cedo
madruga”, “querer é poder”, “filho de peixe, peixinho é” ou ainda “Agosto é o
mês do cachorro louco” e “Vitamina C é boa contra resfriado”. Tais opiniões
repetidas de maneira não reflexiva podem esconder idéias falsas, parciais ou
mesmo preconceituosas. Mas também podem revelar profunda reflexão sobre a vida,
o que chamamos de sabedoria popular,
ou ainda, verdades científicas popularizadas. No entanto, o que marca o senso comum é a falta de fundamentação para os juízos expressos de maneira irrefletida
pela maioria das pessoas ao longo da vida. Ou seja, é a falta do porquê das ideias expressas nas opiniões de senso comum.
Ou ainda, é marca do senso comum a
falta de exame crítico do conhecimento que
se expressa ou repete de maneira automática.
Em
contrapartida, a atitude filosófica pode
ser descrita como a busca de
justificação das nossas opiniões e ideias sobre os mais diversos assuntos.
Por isso mesmo a indagação, o
questionamento, é a marca registrada da atitude filosófica. Também é comum
ouvirmos que a filosofia seria a ciência ou
arte dos porquês, essa ideia de senso
comum a respeito da filosofia nos remete a busca
por fundamentação que, como dissemos, é o que falta ao conhecimento de
senso comum.
Ainda que o
aluno de Ensino Médio não tenha nenhum interesse em tornar-se filósofo, a
atitude filosófica, indagadora e reflexiva, pode ser de grande utilidade ao
longo de sua vida, em situações que exijam uma análise mais detalhada sobre
determinada opinião ou conhecimento que
lhe é apresentado. Mas para desenvolver essa atitude filosófica é
preciso antes reaprender a nos espantar com
o mundo que nos cerca. Digo reaprender, porque
quando crianças o espanto diante do mundo era uma atitude natural e por isso
ouvimos tantas perguntas dos pequenos: O que é isso? De onde veio? Como
funciona? Por que é assim?. E são essas perguntas que nos permitem familiarizarmo-nos com o mundo que antes
nos era estranho. No entanto, é esse sentimento de familiaridade que acompanha
nossa vida adulta que precisa ser superado se queremos avançar do senso comum
para a atitude filosófica e, desse modo, caminhar em direção a uma consciência crítica do mundo. Essa
consciência crítica exige de nós constante avaliação
e exame das opiniões e ideias
que adquirimos do senso comum em busca não da aparência de conhecimento, mas do conhecimento verdadeiro.
É
importante notar que a palavra conhecimento
pode ter sentidos distintos. Nós dizemos ‘conhecer o fulano’ ou ‘conhecer
tal lugar’, ou ‘ter conhecimento do que disse o beltrano’ quando apenas temos consciência ou percepção do tal fulano ou de tal lugar. Dizemos que é um sentido
amplo, lato sensu, da palavra
conhecimento. Mas a filosofia, assim como a ciência, busca o conhecimento stricto sensu, um tipo de conhecimento comprometido com a verdade e com explicações de fenômenos naturais e humanos de maneira racional.
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