domingo, 19 de maio de 2013

Senso comum, atitude filosófica e consciência crítica (3º ANO)

Texto: Francine Ribeiro
Imagens selecionadas por Rafael Cavalcanti

É comum ouvirmos por aí que para a Filosofia as perguntas são mais importantes do que as respostas. Mas o que isso significa na prática? Engana-se quem pensa que os filósofos não buscam respostas ou não estariam interessados em responder as perguntas que formulam. Seria muito estranho se fosse essa a situação. As perguntas se tornam essenciais justamente na medida em que elas nos colocam no caminho das respostas. Sem dúvida, estranhamento e perguntas, não há motivos para buscar respostas. Não há motivos para investigar, para pensar, para descobrir. Por outro lado, cada passo que damos em direção ao novo, ao conhecimento, às respostas, outra tantas perguntas, dúvidas e espantos certamente surgirão. E é isso que interessa para a filosofia: ampliar horizontes, nos desvelar novas paisagens e mundos.



A atitude filosófica é assim marcada por uma maneira de estar e viver o mundo que se opõem à maneira que o senso comum está e vivencia o mundo. Por senso comum entende-se as opiniões ou explicações que fazem parte do nosso cotidiano e permeiam nossas conversas diárias, que são transmitidas de boca em boca e através de gerações. Essas opiniões quando transmitidas via jornais, revistas, televisão e internet podem ganhar o status de verdades absolutas, sendo naturalizadas, uma vez que são amplamente aceitas por diversos segmentos da sociedade. Exemplos de opiniões de senso comum podem ser encontrados em ditos populares como “Deus ajuda quem cedo madruga”, “querer é poder”, “filho de peixe, peixinho é” ou ainda “Agosto é o mês do cachorro louco” e “Vitamina C é boa contra resfriado”. Tais opiniões repetidas de maneira não reflexiva podem esconder idéias falsas, parciais ou mesmo preconceituosas. Mas também podem revelar profunda reflexão sobre a vida, o que chamamos de sabedoria popular, ou ainda, verdades científicas popularizadas. No entanto, o que marca o senso comum é a falta de fundamentação para os juízos expressos de maneira irrefletida pela maioria das pessoas ao longo da vida. Ou seja, é a falta do porquê das ideias expressas nas opiniões de senso comum. Ou ainda, é marca do senso comum a falta de exame crítico do conhecimento que se expressa ou repete de maneira automática.

Em contrapartida, a atitude filosófica pode ser descrita como a busca de justificação das nossas opiniões e ideias sobre os mais diversos assuntos. Por isso mesmo a indagação, o questionamento, é a marca registrada da atitude filosófica. Também é comum ouvirmos que a filosofia seria a ciência ou arte dos porquês, essa ideia de senso comum a respeito da filosofia nos remete a busca por fundamentação que, como dissemos, é o que falta ao conhecimento de senso comum.

Ainda que o aluno de Ensino Médio não tenha nenhum interesse em tornar-se filósofo, a atitude filosófica, indagadora e reflexiva, pode ser de grande utilidade ao longo de sua vida, em situações que exijam uma análise mais detalhada sobre determinada opinião ou conhecimento que lhe é apresentado. Mas para desenvolver essa atitude filosófica é preciso antes reaprender a nos espantar com o mundo que nos cerca. Digo reaprender, porque quando crianças o espanto diante do mundo era uma atitude natural e por isso ouvimos tantas perguntas dos pequenos: O que é isso? De onde veio? Como funciona? Por que é assim?. E são essas perguntas que nos permitem familiarizarmo-nos com o mundo que antes nos era estranho. No entanto, é esse sentimento de familiaridade que acompanha nossa vida adulta que precisa ser superado se queremos avançar do senso comum para a atitude filosófica e, desse modo, caminhar em direção a uma consciência crítica do mundo. Essa consciência crítica exige de nós constante avaliação e exame das opiniões e ideias que adquirimos do senso comum em busca não da aparência de conhecimento, mas do conhecimento verdadeiro.






É importante notar que a palavra conhecimento pode ter sentidos distintos. Nós dizemos ‘conhecer o fulano’ ou ‘conhecer tal lugar’, ou ‘ter conhecimento do que disse o beltrano’ quando apenas temos consciência ou percepção do tal fulano ou de tal lugar. Dizemos que é um sentido amplo, lato sensu, da palavra conhecimento. Mas a filosofia, assim como a ciência, busca o conhecimento stricto sensu, um tipo de conhecimento comprometido com a verdade e com explicações de fenômenos naturais e humanos de maneira racional.

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