Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/06/economia/1499365596_396207.html?rel=cx_articulo#cxrecs_s
Filósofos fazem sucesso nas redes sociais ajudando
a popularizar o termo tão em voga no país de hoje
Nos
últimos anos, a ética deixou de ser um termo dissecado em herméticas aulas de
filosofia para começar a ser discutido em ensolaradas mesas de bar, animados
almoços de família e, principalmente, nas tempestuosas redes sociais. A
popularização do tema, obviamente, é resultado das mudanças que o país vem
sofrendo nos últimos anos. Mas para que a palavra não caia num vazio
existencial, muitas pessoas têm se guiado por espécies de gurus das ciências
humanas, intelectuais que não se furtam em ensinar pelos meios de comunicação mais democráticos o que são
esses assuntos debatidos há milênios e tão em voga no Brasil de hoje. Os mais famosos
são os professores Clóvis de Barros Filho, Leandro Karnal e Mario Sergio Cortella, todos eles filósofos. Têm mais de um milhão de seguidores nas redes
sociais, mais de dois milhões de visualizações em uma única palestra no Youtube, dezenas
de livros publicados (alguns na casa de 200 mil vendidos) e são assíduos frequentadores
dos grupos de Whatsapp.
Cada um faz entre 20
e 30 palestras por mês, inclusive no exterior, principalmente para empresas.
“Ética é a ciência que estuda a moral”, afirma Clóvis de Barros Filho, que foi
professor dessa disciplina por 30 anos em universidades de São Paulo. “E a
ética só existe no coletivo”, completa. Ou seja, ela só faz sentido na
convivência e no reconhecimento do outro. Seja com um, dez, centenas, um país.
Cortella explica que o termo é um conjunto de valores e princípios de avaliação
de conduta que não existe se não for plural – de novo, a questão da vida em
sociedade. “É a ética que orienta as três grandes questões da vida humana:
Quero? Posso? Devo?”, afirma o professor da Fundação Dom Cabral
e comentarista da CBN e da TV Cultura. Segundo ele, uma atitude só é ética se
as três respostas forem sim.
As normas morais
nada mais são do que um zelo pelo convívio social. Basta imaginar um cidadão
que mora sozinho num apartamento. Ele tem protocolos de conduta de uma pessoa
que vive só. Até que passa a compartilhar o espaço com alguém. Rapidamente ele
percebe que tem de parar de fazer parte das coisas que fazia. A partir do
momento que passa a conviver, ele tem de impor um limite à sua conduta. Essa
normatização, que ocorre no convívio de duas, cinquenta, ou cinquenta mil
pessoas é que se chama ética. As pessoas podem e devem seguir em busca dos seus
desejos, desde que não agridam os outros, apontam os especialistas.
É claro, como
observa o professor Barros Filho, que quando tratamos desse assunto, é muito
tentador pensar nas primeiras páginas dos jornais, onde não faltam histórias
escabrosas de abalos de conduta. Mas há excelentes exemplos fora delas. “Não há
problemas só no Palácio do Planalto ou no Congresso Nacional”, diz o professor.
Um exemplo que ele gosta de dar aos seus alunos é o da piscina. “Sempre me
intriguei como as pessoas conseguiam ficar duas, três horas sem sair da água
para urinar. Pensava que eu tinha algum problema prostático. Até que li uma
pesquisa canadense que constatava que havia 70 litros de urina em cada
piscina”, diz Barros Filho.
“As pessoas
condenam as outras a conviverem com seus excrementos simplesmente para não
terem o desconforto de sair da água”, diz ele. Eis o ponto que explica por que
muita gente tem dificuldade de incorporar a ética em sua rotina: “Ética
pressupõe desconforto e maturidade.” A piscina, diz o professor, é uma
alegoria: muitas pessoas fazem o que for preciso para ter vantagem. Ainda que
coloquem em risco a vida de outros. Mas o professor Barros Filho faz um alerta.
Numa sociedade onde as práticas mais corriqueiras são desrespeitadas, a
civilização fracassou. Talvez por isso a ética começou a ser tão discutida por
aqui. “O mundo está vivendo a crise da transição num cenário turbulento de
ambiguidades que leva a diferentes leituras éticas simultâneas. Talvez nunca se
tenha discutido tanto o que vale e o que não vale, com o agravante de as
próprias instituições atravessarem séria crise de credibilidade”, afirma
Leandro Karnal.
Se neste momento
o país vive um desalento ao constatar a ausência de ética na sociedade, há uma
boa notícia dentro desse desconforto: “Essa era uma palavra ausente do espaço
público até 30 anos atrás”, diz Barros Filho. “Estamos vivendo uma revolução.”
E nas empresas não é diferente. Cortella afirma que as companhias
adotam o tema não para ele ser tratado como um bem subjetivo, mas
como um valor negociável. “A ética é um elo estrutural, uma salvaguarda para as
empresas, pois hoje em dia elas também são punidas em caso de malfeito de um
funcionário”. E a pessoa nasce ou não ética? É possível aprender a ser ético?
Essa é uma discussão antiga, de pelo menos dois mil anos. Barros Filho diz que
há, sim, uma dimensão pedagógica, que pode ser aprendida na família, nas
organizações religiosas, nas instituições de ensino e claro, nas empresas. Que
nada mais é do que ensinar a respeitar os outros. “Afinal, o contrário de ético
seria conduta canalha”, encerra o
professor.
- Responder
em folha separada, com nome, nº e turma (não precisa copiar as perguntas)
1- De acordo
com o texto, por que o tema ‘ética’ se tornou tão popular no Brasil nos últimos
tempos?
2- Releia o
texto a partir do 2º parágrafo. A partir das falas dos especialistas, responda:
o que é ética?
3- No texto
aparece a palavra ‘moral’. Qual seria relação entre ‘moral’ e ‘ética’?
4- Segundo
os especialistas, por que as empresas estão preocupadas com a ética hoje?
5- Como você
entende o exemplo da piscina dado pelo professor Clóvis? Segundo esse exemplo,
o que significa agir de maneira ética?
Nenhum comentário:
Postar um comentário