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O trato dos brasileiros com a Política parece
remeter ao Leviatã de Hobbes, ou seja, um poder forte, absoluto e necessário de
uma figura que não pode ser destituída. Diante de tantos casos de corrupção,
não é necessário mudar a postura?
Assuntos
relacionados à Política nos levam a um problema muito maior do que propriamente
a prática dela no Brasil. Afinal, o problema é cultural, pois o processo
histórico no país fez com que a população sempre ficasse à margem das grandes
decisões políticas. A apatia política do brasileiro faz com que o cenário de
exclusão social, corrupção e falta de infraestrutura cada vez aumente mais. Na
verdade, isso só ocorre porque Política nunca foi um assunto público, mas sim
algo remoto a poucos intelectuais ou àqueles que se dedicam a ela. Há no
imaginário popular, no inconsciente coletivo brasileiro, uma ideia de que
Política não é algo do dia a a dia, mas apenas e tão somente algo para ser
lembrado de dois em dois anos. A Política não é algo material, algo da
realidade popular brasileira, principalmente nos anos que se seguiram à ditadura
militar da segunda metade do século XX. Para os brasileiros, o poder obtido por
aqueles que são eleitos é algo irrevogável, inalienável. Mesmo que na teoria o
país seja uma República democrática, na qual o poder dos representantes dos
cargos legislativos e executivos emana do povo, na prática o povo parece ter
pouca consciência disso.
Há uma ideia de
que o poder é absoluto nas mãos dos governantes. Não à toa, a população acaba
por fazer um grande alvoroço em torno do poder executivo, de forma especial, da
figura do presidente da República, como se este fosse um salvador, uma pessoa
que por simples decreto conseguiria resolver todos os problemas da nação. Se na
teoria nosso país é democrático, na prática, na mentalidade da população, somos
ainda uma monarquia. Em grande parte, isso acaba por permitir que o poder
Legislativo seja encarado como algo sem importância e a eleição desses
representantes seja apenas realizada para cumprir um protocolo. Ideias como
essas prejudicam muito o desenvolvimento da Política no Brasil. Esse
messianismo político presente no imaginário brasileiro impede que se veja a
Política de uma forma séria e, mais ainda, impede seu desenvolvimento, sua
verdadeira transformação, que levaria à realização desta como ela deveria ser,
ou seja, voltada ao bem comum, ao desenvolvimento da nação como um todo, e não
um espaço de corrupção, como muitas vezes acaba sendo.
Rodrigo dos Santos Manzano é graduado em
Filosofia pela UNIFAI e professor de Filosofia do SESI-SP e da rede pública do
Estado de São Paulo
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