Fazia já um tempo que Letícia vinha sendo perturbada por certas questões estranhas. Tudo tinha começado há umas duas semanas, na aula de filosofia. O professor propôs um desafio para a turma: prove que você existe. Eles teriam que entregar um trabalho no final do mês a partir das reflexões que fizessem sobre o assunto, apresentando as tais provas. Letícia estava bastante confusa, mas algumas ideias rondavam sua cabeça, se estava no caminho certo, não tinha a menor noção...
No começo, Letícia, assim como
seus colegas, achou que o professor estivesse brincando. Que ideia era aquela?
Como assim provar que eu existo? Eu existo e pronto! E que seus colegas
existiam, bastava o professor se lembrar das muitas algazarras feitas por eles
e das peças que já pregaram nele. Será que já tinha se esquecido da vez que
deixaram um copo de água em cima da porta levemente encostada e quando ele
empurrou a porta para entrar, foi aquele banho? Afinal, aquela água gelada na
cabeça não era prova o suficiente de que eles existiam? Mas o professor
insistiu. E veio com outros desafios ainda mais esquisitos: prove que você não
está num sonho agora; prove que você não é um programa de computador
desenvolvido para pensar esta realidade.
Talvez por ter 16 anos e fazer
parte de uma geração que nasceu grudada ao computador, Letícia começou pelo
último desafio: seria possível ela ser um programa de computador desenvolvido
para pensar esta realidade? Nossa, que viagem! Letícia já tinha pensando
algumas vezes que poderia ser como um daqueles bonequinhos de teatro infantil
manipulados por alguém através de linhas invisíveis. Mas um programa de
computador? Também essas ideias malucas
levavam a outros questionamentos: Quem teria criado o programa de computador?
No caso dos bonequinhos, quem estaria manipulando as linhas invisíveis?...
- É isso! - disse Letícia, de
repente, enquanto dava um salto de sua cama. - Fosse como fosse, o fato de pensar
já não seria prova de alguma coisa? Ou seja, ela parece que tinha resolvido o
primeiro desafio: provar que existia. Letícia continuo falando em voz alta,
enquanto caminhava pelo quarto:
- Não importa muito o que eu sou, posso até ser um programa
de computador, mas uma vez que eu penso, isso é uma prova de que eu sou alguma
coisa, ou melhor, é uma prova de que eu
existo! Não importa quanta besteira eu pense, mas, se eu penso, não dá para
negar que existe alguma coisa responsável por esses pensamentos! Então, é isso:
se eu penso, eu existo. Sou alguma coisa pensante...
Letícia estava eufórica! Precisava
ligar pra Natália imediatamente. Será que a amiga concordaria com ela? Será que
a Natália também já tinha pensado nisso? Nossa, o professor de filosofia era
mesmo figura... Agora Letícia estava louca de curiosidade para saber onde aquela
história toda ia dar...E quanto ao sonho? Será que funcionaria o mesmo
raciocínio? Enquanto ligava para Beatriz, Letícia se perguntava: será que
encontrei a solução para o desafio? ...
Francine Ribeiro
Ótimo texto!
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