domingo, 19 de maio de 2013

Sujeito Racional e Sujeito Moral: Introdução ao estudo de Ética (2º ANO)

Texto: Francine Ribeiro
Imagens e vídeo selecionados por Rafael Cavalcanti

Estamos cansados de ouvir e repetir que ‘o ser humano é um animal racional’. Mas o que exatamente isso significa? O que entendemos por ser racional? Em que medida ser racional pode ser considerado como uma propriedade distintiva do ser humano em relação aos outros animais?

Justamente o fato de fazermos esses questionamentos já nos coloca numa posição bastante diferenciada perante os demais animais. Se fazemos tais perguntas isso revela que somos seres conscientes de nossa existência e, mais do que isso, conscientes de uma série de implicações que decorrem do fato de existirmos. Por exemplo, conscientes de que nossas ações podem e, na maioria das vezes, de fato, interferem na vida das outras pessoas com as quais compartilhamos o Planeta Terra. Como seres racionais nós estabelecemos com o mundo e com os demais seres com os quais vivemos relações de tipos diferentes: cognitiva (nós buscamos conhecimento: fazemos ciência, filosofia, dominamos técnicas, criamos explicações para fenômenos naturais e humanos), criativa (artística - fazemos música, poesia, filmes-, lúdica - brincamos, jogamos, fazemos piadas;) e também valorativa (atribuímos valores as coisas que nos cercam: beleza/feiúra, certo/errado, bom/mau, gostoso/ruim).

A Filosofia, enquanto uma disciplina ou área de conhecimento humano, dedica-se em grande parte a estudar essas relações que nós, seres humanos, estabelecemos como o mundo e com os demais seres que habitam o mundo. Os filósofos costumam formular questões como aquelas apresentadas no primeiro parágrafo desse texto e muitas outras como: Será que nós podemos ter conhecimento sobre o mundo? Como nós conhecemos? O que é a verdade? O que é o belo? O que é justiça? O que significa ser livre? O que entendemos por liberdade? De acordo com o aspecto da vida humana que é observado e questionado temos áreas diferentes da filosofia como Estética, Filosofia da Ciência, Teoria do Conhecimento ou Epistemologia, Política e Ética e outras tantas às quais os filósofos se dedicam.





Quando falamos de moral e de ética nós estamos no campo das ações humanas e de tudo que diz respeito a elas. E por que só as ações humanas pertencem à discussão relativa à ética e moral? O pressuposto que nos leva a essa equação é simples: uma ação pode ser avaliada do ponto de vista moral quando o sujeito ou agente age de maneira (i) consciente e (ii) livre.

Mas, o que vem a ser Moral e Ética? Certamente você já encontrou essas palavras e outras da mesma família como imoral ou antiético no seu dia a dia. Certamente também você já enfrentou algum tipo de dilema moral. Quer ver alguns exemplos de dilemas morais?:

I) Alguns alunos da escola resolvem quebrar um hidrante no corredor. Você não tomou parte da ação, mas todos os seus amigos estavam lá. Você presenciou a cena. Alguém viu você saindo do lugar e o aponta como responsável pela ação. Quando interrogado pela direção, você diz que não fez nada e então, a direção pergunta quem foi, uma vez que você estava lá. O que você faz?

II) Você presencia um acidente. Um motorista atropela um ciclista. Você vê que o motorista estava errado, afinal ele estava na contramão. Quando se aproxima da cena, você descobre que o motorista é o pai do seu melhor amigo. Como testemunha do acidente, você dirá que o pai do seu melhor amigo estava errado?

               Quando estamos em situações como essas descritas acima, nós nos perguntamos qual a coisa certa a fazer. Esse questionamento nos coloca no campo da moral. Nessas situações há valores e princípios que são avaliados a fim de decidir como agir. Pensamos em como a maioria das pessoas agiriam se estivessem naquela situação, nos perguntamos por que deveríamos agir como a maioria ou se há motivos para tomar uma decisão diferente. É comum nessas situações nos perguntarmos se, ao escolher fazer X ou Y, se estaremos sendo justos ou injustos. Normalmente nossas ações refletem costumes e hábitos próprios de um grupo ou sociedade e que são aceitos pelos integrantes desse grupo ou sociedade, como um padrão a ser seguido.





               Você pode estar se perguntando agora se ética é a mesma coisa que moral. E se você desconfia que, embora elas tenham fortes relações, elas não sejam a mesma coisa, deve estar curioso para saber qual a diferença entre elas. De uma maneira simples e introdutória, podemos dizer que enquanto a moral pode ser definida como conjunto de normas que orientam o comportamento humano, a ética diz respeito, mais especificamente, a uma reflexão filosófica acerca daquelas normas morais. A ética num sentido mais especializado e restrito investiga o que é a moral, como ela se fundamenta e se aplica e, portanto, ela estuda os diversos sistemas morais que possam existir. 






Senso comum, atitude filosófica e consciência crítica (3º ANO)

Texto: Francine Ribeiro
Imagens selecionadas por Rafael Cavalcanti

É comum ouvirmos por aí que para a Filosofia as perguntas são mais importantes do que as respostas. Mas o que isso significa na prática? Engana-se quem pensa que os filósofos não buscam respostas ou não estariam interessados em responder as perguntas que formulam. Seria muito estranho se fosse essa a situação. As perguntas se tornam essenciais justamente na medida em que elas nos colocam no caminho das respostas. Sem dúvida, estranhamento e perguntas, não há motivos para buscar respostas. Não há motivos para investigar, para pensar, para descobrir. Por outro lado, cada passo que damos em direção ao novo, ao conhecimento, às respostas, outra tantas perguntas, dúvidas e espantos certamente surgirão. E é isso que interessa para a filosofia: ampliar horizontes, nos desvelar novas paisagens e mundos.



A atitude filosófica é assim marcada por uma maneira de estar e viver o mundo que se opõem à maneira que o senso comum está e vivencia o mundo. Por senso comum entende-se as opiniões ou explicações que fazem parte do nosso cotidiano e permeiam nossas conversas diárias, que são transmitidas de boca em boca e através de gerações. Essas opiniões quando transmitidas via jornais, revistas, televisão e internet podem ganhar o status de verdades absolutas, sendo naturalizadas, uma vez que são amplamente aceitas por diversos segmentos da sociedade. Exemplos de opiniões de senso comum podem ser encontrados em ditos populares como “Deus ajuda quem cedo madruga”, “querer é poder”, “filho de peixe, peixinho é” ou ainda “Agosto é o mês do cachorro louco” e “Vitamina C é boa contra resfriado”. Tais opiniões repetidas de maneira não reflexiva podem esconder idéias falsas, parciais ou mesmo preconceituosas. Mas também podem revelar profunda reflexão sobre a vida, o que chamamos de sabedoria popular, ou ainda, verdades científicas popularizadas. No entanto, o que marca o senso comum é a falta de fundamentação para os juízos expressos de maneira irrefletida pela maioria das pessoas ao longo da vida. Ou seja, é a falta do porquê das ideias expressas nas opiniões de senso comum. Ou ainda, é marca do senso comum a falta de exame crítico do conhecimento que se expressa ou repete de maneira automática.

Em contrapartida, a atitude filosófica pode ser descrita como a busca de justificação das nossas opiniões e ideias sobre os mais diversos assuntos. Por isso mesmo a indagação, o questionamento, é a marca registrada da atitude filosófica. Também é comum ouvirmos que a filosofia seria a ciência ou arte dos porquês, essa ideia de senso comum a respeito da filosofia nos remete a busca por fundamentação que, como dissemos, é o que falta ao conhecimento de senso comum.

Ainda que o aluno de Ensino Médio não tenha nenhum interesse em tornar-se filósofo, a atitude filosófica, indagadora e reflexiva, pode ser de grande utilidade ao longo de sua vida, em situações que exijam uma análise mais detalhada sobre determinada opinião ou conhecimento que lhe é apresentado. Mas para desenvolver essa atitude filosófica é preciso antes reaprender a nos espantar com o mundo que nos cerca. Digo reaprender, porque quando crianças o espanto diante do mundo era uma atitude natural e por isso ouvimos tantas perguntas dos pequenos: O que é isso? De onde veio? Como funciona? Por que é assim?. E são essas perguntas que nos permitem familiarizarmo-nos com o mundo que antes nos era estranho. No entanto, é esse sentimento de familiaridade que acompanha nossa vida adulta que precisa ser superado se queremos avançar do senso comum para a atitude filosófica e, desse modo, caminhar em direção a uma consciência crítica do mundo. Essa consciência crítica exige de nós constante avaliação e exame das opiniões e ideias que adquirimos do senso comum em busca não da aparência de conhecimento, mas do conhecimento verdadeiro.






É importante notar que a palavra conhecimento pode ter sentidos distintos. Nós dizemos ‘conhecer o fulano’ ou ‘conhecer tal lugar’, ou ‘ter conhecimento do que disse o beltrano’ quando apenas temos consciência ou percepção do tal fulano ou de tal lugar. Dizemos que é um sentido amplo, lato sensu, da palavra conhecimento. Mas a filosofia, assim como a ciência, busca o conhecimento stricto sensu, um tipo de conhecimento comprometido com a verdade e com explicações de fenômenos naturais e humanos de maneira racional.