De um modo geral, Efeito Borboleta pode ser visto como mais um filme sobre escolhas. Apesar disso, ele não é um filme qualquer do gênero, pois apresenta boas idéias, até que bem trabalhadas, mas pelo roteiro querer ser "moderninho" demais, provocar lágrimas, acaba por ter uma conclusão bastante insatisfatória. É aquele sentimento chato de ver o final perfeito para o filme passando ali na tela, mas perceber que ele se alongou desnecessariamente, para tentar agradar uma fatia maior do público. Não, o filme não é ruim. Tem suas falhas, mas em vários momentos consegue divertir.
A história começa com Evan adolescente (Ashton Kutcher) entrando desesperadamente em uma sala, colocando móveis na frente da porta e escrevendo uma carta bem tensa sobre o seu possível fim. Sabendo que o filme é do mesmo pessoal de Premonição, pode ser que fiquemos com uma impressão errada sobre ele. Logo depois a história volta alguns anos, mais precisamente para quando Evan tinha apenas sete anos de idade. Por alguns bons minutos, o filme desenvolve os personagens em várias ótimas situações, que devem ser vistas com atenção, já que o filme revisa esses acontecimentos mais para a frente. É exatamente aquele tipo de filme que você não entende nada por um tempo para depois juntar todas as peças do quebra-cabeças.
Nesse tempo de desenvolvimento, acabamos conhecendo uma característica bem peculiar de Evan: sua falta de memória. Parece que a mente do rapaz simplesmente deleta alguns momentos de sua vida, e isso é MUITO bem representado no filme. Isso porque conseguimos sentir exatamente o que uma pessoa na mesma situação sentiria. É usado um recurso de montagem genial. Tente imaginar a cena para entender melhor: você está vendo o filme, normal, e o diretor opta, em certo momento importante do filme, por usar a câmera em subjetiva, ou seja, com a gente vendo exatamente a mesma coisa que o personagem vê (a câmera funciona como seus olhos). Só que, do nada, há um corte brusco e logo depois já há o resultado de alguma coisa que aconteceu e não sabemos o quê – exatamente a mesma situação pela qual passa o personagem. Por exemplo: em certo momento vemos Evan conversando com seu pai na cadeia e, após esse corte brusco, já temos o pai em cima dele, enforcando-o.
A primeira vez que vi esse tipo de montagem tomei um susto. Mas um susto real, não daqueles artificiais que os diretores costumam usar, somente fazendo aparecer algo na tela e o som aumentando cavalarmente só para assustar. Aqui o recurso é o mesmo, mas justificado pela condição do personagem, o que foi uma solução muito criativa por parte do filme. Esse recurso também é usado quando Evan é retratado um pouco mais velho, com treze anos. Novamente o filme constrói diversas situações que serão revistas posteriormente, então é bom quem quer que for assistí-lo ficar atento a essas passagens para depois não ficar perdido. É uma pena que, quando Ashton Kutcher entre em cena, esse recurso seja deixado de lado, pois o personagem passa justamente a lembrar o que aconteceu nesses períodos onde sua memória aparentemente não registrava o que estava acontecendo.
Em uma dessas lembranças, Evan acaba percebendo um grande potencial: manipular o tempo através desses espaços guardados em sua memória. Justamente quando essa manipulação temporal acontece pela primeira vez no filme é que tudo começa a embolar. A cada vez que Evan volta ao passado e altera alguma ação que ele não se lembrava que havia feito, todo o futuro muda. O problema é que a cada vez que ele altera esse passado, parece que alguma coisa ruim acontece, nunca ficando da maneira ideal para seguir a vida. Com isso, o filme deixa todo o suspense criado pelo início do filme para um embaralhamento de gêneros que causa uma mistura na história: você terá drama, suspense, romance. Isso acabou tirando um pouco a identidade da produção, que acaba sendo reconhecida como uma ficção científica, um gênero muito forte para Efeito Borboleta ser enquadrado, sinceramente.
Toda vez que há a alteração no passado e a correção no futuro, o filme peca por cair nos mesmos clichês de sempre ao retratar o mundo à volta de Evan, com algumas forçadas na barra em algumas histórias para nunca estar perfeito o mundo que ele tentou consertar (é importante dizer também que toda vez que ele volta, algo de ruim acontece). E por esses clichês não combinarem com a proposta do filme de brincar com o tempo, tudo quase se perde em meio à pretensão de seus criadores. Há ainda alguns furos enormes na história, como por exemplo Evan voltar para uma época, quando ele tinha sete anos de idade, e depois, não satisfeito com o resultado, voltar para uma de treze. Não se esqueçam que, ao voltar para a de sete, aquele momento de treze anos não havia mais acontecido, havia sido modificado. Ignorando esse fator, é muito divertido ligar tudo o que está acontecendo e ver que o filme foi bem amarradinho, é exatamente aí que a diversão do filme se encontra (apesar de que, é dito que ele não esquece dos acontecimentos).
Agora, quem rouba a cena são as crianças. Creio que tenham sido as melhores interpretações que eu vi em muito tempo, realmente convincentes, melhores até que seus respectivos personagens em versão mais velha! O moleque que fez Tommy com treze anos – Jesse James – tem uma participação extremamente marcante, com pelo menos uma cena inesquecível, bem convincente e assustadora: a do cinema, onde ele briga com um rapaz bem mais velho. Nessa cena destaco a pequena referência aDebi & Lóide e Seven, dois filmes também da New Line que ambientam um pouco a história em nosso tempo real. Pelo menos Ashton Kutcher está menos pior do que de costume e quase que não faz nada de errado durante sua participação. Ele encarou um papel um pouco diferente do que está acostumado, com mais tensão dramática e sem aquelas caretas idiotas que ele costuma fazer em seus filmes de comédia (como Doze é Demais e Recém-Casados). Ele vai levando o filme na boa, mas quando é exigido em uma interpretação um pouco mais dramática, deixa a desejar. Dá para entender o porquê de Cameron Crowe o dispensar de seu novo filme e mandá-lo ter aulas de interpretação. Evan acabou mesmo caindo como um presente para ele, já que Joshua Jackson (o Pacey de Dawson’s Creek) e Seann William Scott já haviam sido chamados para o papel, porém recusaram, além do fato de ser Efeito Borboleta um filme diferente do que ele estava acostumado a participar, melhorando assim seu currículo como ator.
Não poderia deixar de comentar a belíssima música composta pela minha banda favorita de todos os tempos: ‘Stop Crying Your Heart Out’, do Oasis, que toca do fim do filme até metade dos créditos finais. Ela realmente se encaixou muito bem à situação e, "fãamente" falando, foi inesquecível ouví-la em um cinema praticamente só para mim e nas alturas. Só esse fato já havia valido o ingresso. Aliás, é importante dar um destaque para toda a parte sonora de Efeito Borboleta, pois a trilha foi muito bem escolhida e funciona bem sempre que é exigida.
Se Efeito Borboleta tivesse terminado quando o filme retorna justamente para onde começou, teria sido muito melhor. Agora o prolongamento de seu final quase pôs tudo a perder, pois um monte de perguntas vêm à mente ao final do filme, como por exemplo “por que AQUELA ação deu final ao ciclo de acontecimentos ruins? Por que tinha que ser EXATAMENTE aquilo que alterava toda a vida daquelas pessoas ao redor?”. Justamente por causa dos diretores terem feito essa opção, o filme acaba ficando com cara de forçado, afinal, essa opção não poderia mover o filme inteiro e também a vida de todas aquelas pessoas envolvidas ao redor. Mais uma vez, se você ignorar essas forçadas e os pequenos erros de lógica, você vai conseguir tirar algo de bom de Efeito Borboleta, mesmo que ele não mude sua vida em nada. Não vai ser um dinheiro jogado fora, e hoje em dia isso já é um grande lucro.
Efeito Borboleta
(Butterfly Effect, The, 2004) |
• Direção:
- Eric Bress
- J. Mackye Gruber
• Elenco Principal:
- Ashton Kutcher
- Melora Walters
• Sinopse: Evan é um rapaz que teve certos problemas de memória quando garoto. Já crescido, ele descobre uma capacidade de poder viajar pelo tempo através desses buracos em suas lembranças. Ele utiliza desse poder para poder ficar com a garota dos seus sonhos, ...
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