Selfie, Paródia da música Help -The Beatles;
Apareço, logo existo, artigo da Revista Filosofia Ciência e Vida;
Trechos selecionados do texto A sociedade do espetáculo, de José Aloise Bahia, disponível na íntegra aqui.
"A gênese do pensamento contemporâneo sobre a questão do espetáculo tem suas raízes no pensador situacionista pós-marxista francês Guy Debord (1931-1994) e em seu livro. A primeira parte – A sociedade do espetáculo – foi escrita em 1967. (...)
O ponto de partida do livro é uma crítica ferina e radical a todo e
qualquer tipo de imagem que leve o homem à passividade e à aceitação dos
valores preestabelecidos pelo capitalismo. Para o filósofo, cineasta e
ativista francês, a sociedade da época estava contaminada pelas imagens,
sombras do que efetivamente existe, onde se torna mais fácil ver e
verificar a realidade no reino das imagens, e não no plano da própria
realidade. Servindo-se de aforismos, no primeiro deles Debord afirma que
"toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de
produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o
que era vivido diretamente tornou-se uma representação". Ou seja, pela
mediação das imagens e mensagens dos meios de comunicação de massa, os
indivíduos em sociedade abdicam da dura realidade dos acontecimentos da
vida, e passam a viver num mundo movido pelas aparências e consumo
permanente de fatos, notícias, produtos e mercadorias.
A
sociedade do espetáculo é o próprio espetáculo, a forma mais perversa de
ser da sociedade de consumo. Como bem observa José Arbex Jr. no livro Showrnalismo: a notícia como espetáculo (Editora Casa Amarela, São Paulo, 2001):
"O
espetáculo – diz Debord – consiste na multiplicação de ícones e
imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas
também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo
aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores,
políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo
transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade
e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido
a uma sociedade esfacelada e dividida. É a forma mais elaborada de uma
sociedade que desenvolveu ao extremo o ‘fetichismo da mercadoria’
(felicidade identifica-se a consumo). Os meios de comunicação de massa –
diz Debord – são apenas ‘a manifestação superficial mais esmagadora da
sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz, anônimo e
solitário em meio à massa de consumidores’".
Desta
maneira, as relações entre as pessoas transformam-se em imagens e
espetáculo. "O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação
social entre pessoas, mediada por imagens", argumenta Debord. O consumo e
a imagem ocupam o lugar que antes era do diálogo pessoal através da TV e
os outros meios de comunicação de massa, publicidades de automóveis,
marcas etc. e produz o isolamento e a separação social entre os seres
humanos. Por exemplo, a questão da droga será tratada na TV (algumas
telenovelas brasileiras mais recentes abordaram tal assunto), e não no
seio familiar. Ocorre aí uma devastadora inversão da noção de valores. O
espetáculo se constitui a realidade e a realidade o espetáculo. Já não
se tem um limite definido para as coisas.
Com a presença incessante dos meios de comunicação de massa, o homem
passa a ser e a viver uma vida sonhada e idealizada, na qual a ficção
mistura-se à realidade, e vice-versa, incorporando-se à realidade vivida
pelo indivíduo (interessante citar, e tudo leva a crer que, a partir
das idéias de Debord, Eugênio Bucci apresenta as cinco leis não escritas
– não explicitadas – da televisão brasileira no livro Brasil em tempos de TV,
da Boitempo Editorial, 1997, entre elas o efeito-sanduíche
realidade-ficção/ficção-realidade, pelo qual os telejornais (reino da
realidade) se organizam como melodramas (reino da ficção) e as novelas
(reino da ficção) vão se alimentar no reino da realidade. O reino da
notícia bebe no da ficção, e vice-versa, produzindo um entendimento
parcial, fragmentado, e nunca pleno do mundo dos acontecimentos".